A palavra «torpe» na sua origem etimológica, significava «tropeço» ou «entorpecimento - retardar desenvolvimento». O termo «torpe» inicialmente na antiguidade usava-se quando embarcações, veículos, colunas de soldados, etc. se encontravam «desviadas» ou «atrasadas» quando ao seu rumo previsto. Paulo ao dizer para não se usarem «palavras torpes», referia-se não a palavrinhas singulares mas a conversas que desviassem e trouxessem torpeço espiritual a quem as ouvisse. Ou seja, tem a ver com enganar e manipular emocional ou espiritualmente alguém; não necessariamente com o dizerem-se "merdices"!
«Torpe», do grego «saprós» – significa: sem nível; corrupto ou imperfeito; falido; erro; lapso; acanhado; embaraçado; que não é ágil, e mais tarde também passou a significar, reles; sem valor; sujo; manchado; obsceno, etc.
Veja lá com todo o contexto, se o sentido do "não saia da vossa boca palavras torpes", não se tornou agora mais abrangente do que aquele que você tinha antes...
"Não saia da vossa boca palavras torpes, mas só as que forem boas para promover edificação (crescimento, desenvolvimento*), para que dê graça (seja favorável e relevante*) aos que as ouvem. Não entristeçais o Espírito Santo de Deus no qual estais selados para o dia da redenção. Toda a amargura e ira, cólera e gritaria, blasfémia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós (vivência e discursos torpes*). Sejam uns para com os outros benignos e misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros como também Deus vos perdoou em Cristo." Blog d'Paulo aos Efésios, capítulo 4 versos 29 a 32
Você sabia que a grande maioria das palavras que hoje são consideradas asneiras, tratavam-se de termos vulgares usados por culturas mais tradicionais ou "retrogradas" no interior dos países, quando comparadas com a cultura cosmopolita, citadina?! A grande maioria dessas palavras e termos usados no interior pelos da plebe considerados como «ignorantes» e «iletrados», eram considerados pelos citadinos que como «inteligentes» que eles olhavam para si mesmos, como sendo uma linguagem imprópria de uma pessoa com educação, e por tal se tornou ofensiva ser usada por gente com estudos que não se queria ver misturada com as classes mais pobres, quando na verdade no "linguarejar" das pessoas mais humildes não significavam nada demais.
Alguns exemplos: 1) «Cabrão» - é o masculino de Cabra; 2) «Caralho» - é a palavra com que se denominava a pequena cesta que se encontrava no alto dos mastros das caravelas, de onde os vigias perscrutavam o horizonte em busca de sinais de terra;3) «Porra» - designava uma arma de guerra medieval, que era um bastão de madeira com ponta protuberante, cravejada de lanças de metal. Este instrumento foi associado mais tarde ao membro masculino e com o passar do tempo, também ao sémen.
É então incorrecto um homem ou mulher de Deus, dizer asneiras – palavras torpes?! Por exemplo, o apóstolo Paulo (um homem de Deus, considerado grande ensinador pela avassaladora maioria dos teólogos da cristandade) usou uma palavra equivalente à palavra «merda» quando disse que tinha reportado todo o seu passado religioso e conhecimento teológico como «esterco/escória» - merda no original (Ler Filipenses 3:8); O profeta Amós (também um homem de Deus), adjectivou as esposas dos nobres e sacerdotes do seu tempo de "vacas" (Ler Amós 4:1); Jesus (O Homem e Filho de Deus) disse que os religiosos se comportavam como «filhos-da-prostituta» - hoje não ficaria bem dizer «filhos-da-puta», mas foi isto que eles entenderam quando os identificou como sendo «geração adultera» que se prostituía espiritualmente (Ler Mateus 12:39; Mateus 16:4; Marcos 3:38).
Ou seja, uma pessoa por usar 999 palavras torpes (asneiras) num discurso que contenha 1000 palavras, não fará ninguém pecar; fará sim é que quem o(a ouça considere essa pessoa em causa como doido(a, e não como um individuo que conscientemente procure levar os outros a pecar; sim, é claro que alguém facilmente impressionável ou melhor, hipersensível emocionalmente por causa da cultura religiosa asceta, também se escandalize com «palavras torpes». Mas pecar, também passa por ser uma decisão individual e não acontece exclusivamente por contágio inevitável ao ouvir-se conversas nas quais se usem linguagem "imprópria", obscena sem que as ditas conversas tenham um objectivo de ferir alguém.
Não é então por se usar uma palavra "nojenta" em si que alguém "cai" em pecado, e fica entorpecido (perdendo de vigor, a energia, as forças) ou que se prejudica outrem no seu desenvolvimento mental, emocional ou até mesmo espiritual; e sim em ferir de tal forma que a pessoa em causa (a ferida) fique traumatizada (não confunda com chocada nem escandalizada) pelo discurso que se tenha tido para com as mesmas. Para isto, para ferir-se realmente alguém, basta até falar-se para outrem, usando só palavras "limpas" mas cujo efeito nocivo da afirmação é muito mais nojento e agressivo do que "soltar" em desabafo excepcional, tipo«merda», etc. sem atacar-se ninguém.
Mas se Jesus diz que iremos prestar contas (prestar contas, não é ser condenado por tal) a Deus por cada palavra ociosa que sair da nossa boca (Ler Mateus 12:36), e de que o que há em abundância no coração, disso fala a boca (Ler Mateus 12:34); o que quer Jesus dizer com isto sobre esta questão, de usarem-se palavras torpes e ociosas? Começo por responder a este argumento, colocando uma questão retórica: Se alguém que fale 900 palavras sábias mais 100 asneiras (mil palavras no total de um discurso), o seu coração é abundante do quê, do certo que falou (as 900 palavras) ou do errado (as 100 asneiras?! É óbvio que o mais fala é do que mais está cheio.
Quando Jesus se refere a «palavra ociosa», Ele não está a circunscrever-se referindo-se exclusiva e unicamente a um termo singular (uma palavrinha), mas a todo um discurso. Paulo quando a escreve a Tito (Ler Tito 3: 8 e 9) como que explica isto, dando exemplo de que nos devemos abster de contendas e debates, ou seja de «conversas» vãs, loucas e contenciosas, isto apesar de no contexto ele estar a referir-se somente a assuntos "acerca da Lei". Palavras ociosas, não se tratam então da verbalização de palavras isoladas ou termos singulares mas sim de conversas; pois o «passar a palavra» nada tem a ver com a reprodução de um conjunto de vocábulos isolados e sem nexo lógico entre si, mas com a transmissão de uma mensagem - cujo conjunto de palavras juntas, objectivem um discurso através do qual se transmita um discurso, uma comunicação.
Como discípulos de Jesus, sabemos não nos convém usar palavras torpes (asneiras), isto porque não fica bem culturalmente fazê-lo e como respeito aos demais bem como também para não escandalizarmos determinados os infantes-eternos na fé (Cf. 1ª Coríntios 8:9), não devemos pronunciar termos torpes. E certamente que não é por uma, nem será por duas, três ou mais «asneiradas» que se possam dizer, que a alma que as diga se torne ou transforma outra(s em alma(s-penada(s, ou seja, condenada(s. Os ensinos errados maliciosamente passados para proveito de quem os professa, são de longe piores e mais destrutivos que as piores palavras torpes.
Ou seja, mais importante é não usarmos as nossas bocas e as nossas vidas para maldizer, levantar calúnias ou manipular maliciosamente alguém, traumatizar-se alguém de forma espiritual ou emocionalmente, como por exemplo muitos líderes religiosos fazem em nome de Deus, quando manipulam através das Suas Palavras e Ensinos as pessoas para seu próprio proveito; isto sim, devido às suas consequências directas é MUITO pior do que chocar alguém usando-se um palavrão.
Existe então, uma GRANDE e ENORMÍSSIMA diferença, nítida até e mesmo distinta, entre aquilo que são usarem-se “palavras torpes” (asneiras, calão considerado impróprio por uma determinada cultura) e ter-se discursos bem como comportamentos maledicentes e caluniosos para com outrem, ou até mesmo proclamarem-se ensinos que levem as pessoas ao tropeço espiritual e condicionamento mental bem como emocional, a ponto destas ficarem marcadas e feridas emocional e espiritualmente para TODA a sua vida!
"A morte e a vida estão no poder da língua (e não nas palavras torpes - ou palavrões*)..." Blog dos Provérbios d'o Rei Salomão, capítulo 18 verso 21
* Acréscimos explicativos aos textos de Efésios 4:29 a 32 e Provérbios 19:21, para uma melhor compreensão dos mesmos.
por Hélder R. Inocêncio | Fundador e um dos Dinamizadores SPOT'X,
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